há um pássaro azul em meu peito que
quer sair
mas sou duro demais com ele,
eu digo, fique aí, não deixarei
que ninguém o veja.
há um pássaro azul em meu peito que
quer sair
mas eu despejo uísque sobre ele e inalo
fumaça de cigarro
e as putas e os atendentes dos bares
e das mercearias
nunca saberão que
ele está
lá dentro.
há um pássaro azul em meu peito que
quer sair
mas sou duro demais com ele,
eu digo,
fique aí, quer acabar
comigo?
quer foder com minha
escrita?
quer arruinar a venda dos meus livros na
Europa?
há um pássaro azul em meu peito que
quer sair
mas sou bastante esperto, deixo que ele saia
somente em algumas noites
quando todos estão dormindo.
eu digo, sei que você está aí,
então não fique
triste.
depois o coloco de volta em seu lugar,
mas ele ainda canta um pouquinho
lá dentro, não deixo que morra
completamente
e nós dormimos juntos
assim
com nosso pacto secreto
e isto é bom o suficiente para
fazer um homem
chorar, mas eu não
choro, e
você?
Da Coletânea “Textos Autobiográficos” de CHARLES BUKOWSKI
(Tradução: Pedro Gonzaga)
Creio que esse seja um dos poemas mais intrigantes sobre a
personalidade de nosso Velho Safado. Pois sabemos a sua história, e vemos isso
refletir em peso em sua obra. Sua poesia Marginal que deu o que falar na época,
seus textos, contos, crônicas, sempre envoltos a dura realidade cruel. Morte,
cansaço, tristeza, solidão, e até mesmo suicídio são retratados. Uma escuridão sempre se
faz presente, independente do trecho solto que pegamos para postar nas “Redes
Sociais”.
Mais a questão é que no poema O PÁSSARO AZUL, você consegue
notar ao menos um pingo de um Bukowski que ficou imerso. Talvez tenha sido bom.
Porém é egoísmo pensar assim, pois foi a vida de um homem. Achar magnifico uma obra
genial, mais que foi embasa em sua dura vida, por um lado deixa mal de achar
melhor O Pássaro Azul não ter saído do peito do nosso Velho Bukowski. Como
seria se ele tivesse libertado completamente? Como seria sua obra? Teria feito
o sucesso, e reconhecimento que tem hoje no mundo? Teria sido Bukowski mais Feliz?
Infelizmente esse gênio da Literatura Moderna não está mais
aqui. Mais ele deixou o seu Legado, seja ele obscuro, deprimente, regado a solidão, bebidas, mulheres, sexo e Beethoven, ele se tonou Imortal.
Rafael C.